Pe. Mário Fernando Glaab
Quanto mais se insiste de que é preciso evangelizar, tanto mais é necessário perguntar sobre o como e sobre o porquê da evangelização. Os cristãos parecem ter como obsessão a tarefa de anunciar o evangelho conforme a sua igreja o propõe. Tanto católicos como evangélicos procuram por todos os meios convencer as massas da necessidade de conhecer melhor a Jesus Cristo e a sua mensagem. Isso acontece nos templos, nas ruas, na mídia etc. Por outro lado, é também possível ver que todo esse esforço nem sempre produz os frutos esperados. Mesmo que numerosas pessoas dão ouvidos aos igualmente muitos apelos, a transformação da sociedade não é tão palpável assim como se deseja. Existem exceções, sim; mas essas não podem ser vistas como regra ordinária.
O grande teólogo e lutador incansável por um mundo mais justo e fraterno, o Pe. Comblin, falecido há pouco tempo, dizia que o evangelho, conforme é anunciado, satisfaz à burguesia e aos acomodados em geral. Eles, até gostam de ouvi-lo e fazer de conta que o vivem, mas não se transformam – continuam em sua hipocrisia. Quando a pregação das igrejas não passa de palavras bonitas sobre Deus, Jesus, os santos, os bons que dão ofertas, o céu e as graças que se podem alcançar através dos pedidos e das bênçãos, as pessoas adoram ouvir. Chegam até a colaborar, ajudam, rezam e cantam com entusiasmo; esperam confiantes porque "compraram" o pregador e a comunidade. O coração, no entanto, continua o mesmo. Não há conversão de vida. O que falta então?
Outro teólogo que se caracteriza por seu compromisso com os mais pobres e sofridos, sempre preocupado por ajudá-los a encontrar luz no Homem de Nazaré, Joh Sobrino, ensina que não há verdadeira evangelização sem levar a sério a cruz do mundo e ao mesmo tempo a cruz de Jesus. De nada adianta pregar a plenos pulmões que Jesus, com sua cruz, salvou o mundo, se essa cruz não é levada a sério nas cruzes dos que hoje pesam e matam a tantos indefesos e esquecidos. Tomar a sério a cruz do mundo e a cruz de Jesus de Nazaré ao evangelizar, eis a receita. Essa receita, não é nem um pouquinho doce ao paladar, e nunca vai satisfazer a burguesia; não satisfaz os que têm muitos bens, poder, sabedoria e fama. Mas somente essa receita pode curar. Aliás, essa é a verdadeira evangelização. E, continuando na mesma linha de pensamento, pode-se passar para os cultos que "enfeitam" nossas igrejas. De fato, a beleza dos louvores, das vestes, dos objetos sagrados e mesmo dos templos, nem sempre refletem coerência com o evangelho de Jesus de Nazaré. Também ele, o culto, nesse caso, pode satisfazer àqueles que não querem nenhum compromisso com a cruz do mundo, pois sem compromissos sérios e operosos, o culto se torna um passatempo cômodo, um culto vazio, na verdade, uma aparência de culto.
Mais do que nunca, hoje as igrejas e os pregadores do evangelho necessitam rever qual evangelho anunciam, onde experimentam sua ação transformadora, tanto em si mesma como na sociedade, caso contrário, não se vai além de fazer cócegas a ouvidos descompromissados. O anúncio da Boa Nova de Jesus Cristo é dar carne e osso à presença de Deus em meio às cruzes e aos anseios dos homens concretos, lá onde estão; isso somente faz sentido quando acontece por anunciadores comprometidos que mais do que com palavras, anunciam com o testemunho de vida.
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