quinta-feira, 26 de julho de 2012

A Teologia da Prosperidade em questão

A reportagem é de Jérôme Anciberro, publicada na revista Témoignage Chrétien, 23-07-2012, reproduzida pelo IHU-Unisinos.
O princípio é simples: você dá 10 euros (à sua Igreja, aos pobres...), proclama a sua fé e receberá mil (ou será curado do câncer). Nestes tempos de crise, pode-se entender que esse investimento interesse mais do que uma pessoa. Ainda mais que seria garantido por Jesus em pessoa, que no Evangelho de Marcos (10, 29-30) afirma que "quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e da Boa Notícia, vai receber cem vezes mais, agora, durante esta vida […] E, no mundo futuro, vai receber a vida eterna".
Essa "lei do cêntuplo" é uma das bases bíblicas da teologia da prosperidade, sobre a qual se baseiam algumas Igrejas evangélicas independentes nascidas da influência pentecostal. O movimento, em que se reconheceria cerca de 20% dos cristãos norte-americanos, nasceu nos EUA nos anos 1950 e se desenvolveu ao longo dos anos 1970, graças a alguns pastores carismáticos, muitas vezes fundadores das suas próprias Igrejas independentes.
Pouco a pouco, ela se espalhou por todo o mundo, particularmente na Ásia (especialmente na Coreia do Sul) e na África, e preocupa seriamente os primeiros interessados, isto é, os próprios evangélicos. Na França, certas Igrejas ou "missões" ligadas a representantes da teologia da prosperidade vão pregar em "cruzadas-relâmpago", como o norte-americano Benny Hinn, que promete milagres e curas em quantidade.

Idolatria do dinheiro
Nos EUA, pastores-estrela de tendência evangélica como Rick Warren ou Jerry Falwell (1933-2007) sempre falaram muito claramente para denunciar aquilo que consideram, juntamente com muitos outros, como uma verdadeira idolatria do dinheiro. Ao elaborar e divulgar, no mês passado, um estudo sério sobre o assunto, o Conselho Nacional dos Evangélicos Franceses (CNEF) definitivamente se distanciou dessa teologia, falando de "ingenuidade assombrosa com relação ao pecado e à sua ação na vida do fiel", de "uma forma moderna de idolatria", de "um pensamento mágico" ou ainda de "uma paganização da fé"...
O texto, de cerca de 30 páginas, é fruto do trabalho do comitê teológico do CNEF, no qual estão representadas todas as suas correntes teológicas, dos batistas às Assembleias de Deus, dos "biblistas" aos pentecostais... Ele foi aprovado por unanimidade pelos delegados das uniões das Igrejas e das obras, reunidos em assembleia plenária no dia 22 de maio passado.
"É um trabalho em equipe", explica Thierry Le Gall, diretor de comunicação do CNEF. "Absolutamente não se visa a dar instruções – não somos um Vaticano evangélico! – mas sim a expor um ponto de vista teológico de fundo que, sem dúvida, merecia ser tornado público".
A teologia da prosperidade, explicam os teólogos do CNEF, está em perfeito acordo com uma ideologia contemporânea ao mesmo tempo hedonista e antropocêntrica. Tudo, de algum modo, é "instrumentalizado ao serviço da prosperidade, incluindo a obediência a Deus e a generosidade cristã. [...] A concepção do ser humano o torna um pequeno deus, que age como lhe agrada".
Por exemplo, encontram-se relacionadas com o documento algumas citações desarmantes retiradas de teologias da prosperidade, como aqueles "Vocês são deuses!" de Robert Tilton, um célebre tele-evangelista norte-americano. Essa busca pela eficiência a todo custo pode ter consequências psicológicas pesadas: "Todo o peso do eventual fracasso dessas promessas recai sobre o fiel que nelas esperou, rezou, doou", lembra o CNEF. "É impossível, nesse sistema, pôr em questão as promessas de partida. Culpa-se quem ´não recebeu´ por causa da sua falta de fé, de quem serão descobertas as menores falhas".
Acima de tudo, a teologia da prosperidade proporia uma "concepção errônea da fé". E o texto do CNEF afirma: "Toda concepção da fé que imporia a Deus a sua própria decisão ou ação [...] é semelhante à ´oração dos pagãos´, que conta não com Deus, mas com a própria eficácia da oração humana, da sua formulação ou da sua repetição".
A reportagem é de Jérôme Anciberro, publicada na revista Témoignage Chrétien, 23-07-2012, reproduzida pelo IHU-Unisinos.

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